Anvisa proíbe Tapioca com Creatina para proteger crianças, mas entenda porque essa decisão não faz sentido

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A creatina é um dos suplementos mais estudados e usados no mundo. Popular entre atletas, ela promete mais força, potência e recuperação muscular. Mas será que é segura para todos? Recentemente, a Anvisa decidiu proibir a venda de um produto que misturava tapioca com creatina, reacendendo dúvidas sobre o uso da substância por crianças e adolescentes.

Essa decisão coloca em foco um tema importante: o uso de suplementos por públicos vulneráveis. Será que a creatina, tão segura para adultos, apresenta os mesmos benefícios e segurança para jovens? Vamos analisar o caso e o que a ciência diz sobre isso.

A decisão da Anvisa

No dia 6 de janeiro de 2025, a Anvisa publicou uma resolução (nº 4.871/2024) proibindo a comercialização de uma tapioca enriquecida com creatina. Segundo o órgão, a substância não foi avaliada para uso em alimentos convencionais e só é permitida como suplemento para maiores de 19 anos. A tapioca foi retirada do mercado, junto com lotes de outras marcas que também adicionaram creatina em seus produtos.

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Por que essa decisão? Falta de estudos que comprovem a segurança da creatina em crianças e adolescentes, especialmente quando consumida sem orientação.

O que a ciência diz?

Dois estudos recentes analisaram o impacto da creatina em crianças e adolescentes, explorando tanto o desempenho esportivo quanto a saúde geral. Os resultados trazem insights valiosos, mas também reforçam a necessidade de mais pesquisas antes de recomendá-la amplamente para jovens.

Estudo 1: Revisão sobre a Creatina em jovens

O primeiro estudo, publicado na Nutrients por Jagim e Kerksick (2021), revisou os efeitos da suplementação de creatina em crianças e adolescentes. A pesquisa destacou que, embora os estudos sejam limitados, os benefícios observados em adolescentes atletas incluem melhorias no desempenho em esportes de alta intensidade, como natação e futebol, além de aumento de força muscular. Não foram relatados efeitos adversos graves nos estudos analisados, reforçando a segurança em curto prazo quando a suplementação é feita com supervisão profissional​.

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Este estudo apontou que a creatina tem aplicações terapêuticas promissoras, especialmente para jovens com condições neuromusculares, como distrofias musculares.

Creatina em adolescentes mostrou potencial para aumentar a força muscular e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Apesar disso, os autores alertam sobre a necessidade de mais ensaios clínicos controlados para avaliar os impactos de longo prazo​.

Estudo 2: Consumo dietético de Creatina

O segundo estudo, liderado por Korovljev et al. (2021) e publicado no Journal of the International Society of Sports Nutrition, investigou o consumo dietético de creatina entre diferentes faixas etárias nos Estados Unidos ao longo de 20 anos. A pesquisa revelou que crianças e adolescentes têm consumido menos creatina de fontes alimentares (como carnes e peixes) desde 1999.

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Essa redução pode ter implicações para o desenvolvimento neuromuscular, já que a creatina desempenha um papel essencial na função celular e no crescimento saudável.

O estudo sugere que a suplementação ou fortificação alimentar pode ser uma solução para compensar essa queda, mas reforça que os níveis ideais de creatina na dieta para jovens ainda precisam ser estabelecidos​.

Conclusão prática

Os dois estudos indicam que a creatina pode ser benéfica em contextos específicos, como esportes de alta intensidade ou condições clínicas que afetam a força muscular. Apesar da ausência de pesquisas robustas e de longo prazo em crianças e adolescentes impede uma recomendação ampla.

O consenso é claro: a suplementação só deve ser feita sob orientação médica e em situações bem justificadas. Embora a creatina tenha um perfil de segurança promissor, é necessário cautela, especialmente em indivíduos em fase de crescimento.

Mitos sobre a Creatina

A creatina foi proibida no Brasil nos anos 2000 por falta de estudos disponíveis na época, não por comprovação de riscos graves. Com mais evidências científicas, ela foi liberada e é considerada segura atualmente.

Aqui está uma lista com os principais mitos sobre os malefícios da creatina e o que a ciência realmente diz sobre eles:

1. A Creatina danifica os rins

Mito: A creatina sobrecarrega os rins e pode causar insuficiência renal.
Fato: Estudos em adultos saudáveis mostram que a creatina não causa danos renais quando usada em doses recomendadas (3–5 g/dia). Esse mito provavelmente surgiu devido ao aumento da creatinina (um marcador renal), que ocorre naturalmente durante a suplementação, mas não indica disfunção renal​.

2. A Creatina prejudica o fígado

Mito: A suplementação causa problemas hepáticos.
Fato: Não há evidências de que a creatina prejudique a função do fígado em pessoas saudáveis. Estudos clínicos com uso prolongado não demonstraram alterações nos marcadores hepáticos​.

3. A creatina causa cãibras e desidratação

Mito: A creatina aumenta o risco de cãibras e desidratação devido à retenção de líquidos.
Fato: Estudos modernos refutaram essa ideia. Pelo contrário, a creatina pode melhorar a hidratação intracelular e ajudar na termorregulação durante exercícios intensos​.

4. A Creatina engorda

Mito: A creatina causa ganho de gordura.
Fato: A creatina pode aumentar o peso devido à retenção de água nos músculos, mas não promove ganho de gordura. Esse “peso extra” geralmente é temporário e está relacionado ao aumento do volume muscular​.

5. A Creatina é um esteroide anabolizante (bomba!)

Mito: A creatina é confundida com anabolizantes esteroides.
Fato: A creatina é um composto natural encontrado em alimentos como carne e peixe. Não tem relação com esteroides e não altera os hormônios sexuais, como testosterona​.

6. A Creatina é perigosa para adolescentes

Mito: A creatina não pode ser usada por jovens em nenhuma circunstância.
Fato: Embora a suplementação indiscriminada de creatina deva ser evitada, estudos controlados sugerem que pode ser segura e benéfica para jovens atletas em situações específicas e sob supervisão profissional​​.

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