Jejum intermitente é bom para TDAH? O que os estudos mostram sobre o resultado do jejum para tratar os sintomas do TDAH
O jejum intermitente já é amplamente estudado por seus benefícios para a saúde metabólica e longevidade. Mas será que essa prática pode ser uma aliada para quem tem TDAH?
Muitas pessoas com TDAH buscam estratégias para melhorar o foco, a energia e a estabilidade emocional. O jejum pode influenciar neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, que desempenham um papel crucial no transtorno. Mas, ao mesmo tempo, períodos prolongados sem comida podem impactar a concentração e o controle de impulsos.
A PlexNutri investigou os estudos mais recentes sobre o tema para entender se o jejum pode ser uma ferramenta poderosa para o cérebro ou um risco desnecessário para quem já lida com desafios cognitivos.
O que é o Jejum Intermitente e como ele impacta o cérebro?
Primeiro, vamos alinhar o conceito: o jejum intermitente não é apenas pular refeições aleatoriamente. Ele é uma estratégia alimentar que intercala períodos de alimentação com períodos sem ingestão calórica, podendo variar de 12 a 24 horas.
Atualmente, o jejum é estudado em diversas áreas, incluindo saúde metabólica, neurociência e longevidade. Durante o período de jejum, o corpo entra em um estado metabólico diferente, promovendo a cetose (uso de gordura como fonte de energia), ativando a autofagia (reciclagem celular) e influenciando neurotransmissores importantes para o TDAH.
Efeitos do jejum no cérebro
- Aumento da dopamina – um neurotransmissor essencial para motivação e foco, muitas vezes desregulado no TDAH.
- Maior estabilidade na glicose sanguínea, reduzindo picos e quedas de energia que afetam a atenção.
- Ativação da autofagia, um processo que remove células danificadas e melhora a saúde neuronal.
- Regulação do estresse oxidativo e inflamação, fatores que podem estar envolvidos nos sintomas do TDAH.
Um estudo publicado na Cell Metabolism (2021) mostrou que o jejum pode melhorar a neuroplasticidade e a função cognitiva, principalmente em situações de alta demanda mental.
Mas será que isso significa que ele pode ser benéfico para quem tem TDAH? Vamos analisar os possíveis benefícios e desafios.
Benefícios do Jejum Intermitente no TDAH
Embora os estudos sobre jejum e TDAH ainda sejam limitados, algumas evidências apontam para efeitos positivos.
Regulação da dopamina
O TDAH está fortemente ligado a um déficit na dopamina, o neurotransmissor responsável pelo prazer, motivação e capacidade de manter a atenção.
O jejum pode atuar nesse sistema ao aumentar a sensibilidade dos receptores de dopamina, tornando o cérebro mais eficiente na sua utilização. Isso poderia ajudar na redução da procrastinação e na melhora do foco.
📌 Estudo de Referência: Uma pesquisa publicada no Annual Review of Nutrition (2020) indicou que períodos curtos de jejum podem aumentar a sinalização da dopamina, o que pode ser benéfico para o desempenho cognitivo.
Clareza mental e estabilidade
O jejum ajuda a reduzir oscilações na glicose sanguínea, o que pode ser útil para pessoas com TDAH que sofrem com variações bruscas de energia ao longo do dia.
Sem as quedas de energia causadas por dietas ricas em açúcar e carboidratos refinados, o cérebro pode manter um nível mais estável de atenção e desempenho.
📌 Estudo de Referência: Pesquisas indicam que dietas com menor carga glicêmica podem ter um efeito positivo na função cognitiva de pessoas com TDAH (Journal of Attention Disorders, 2019).
Redução da inflamação no cérebro
Estudos sugerem que processos inflamatórios podem estar envolvidos na disfunção neurológica do TDAH.
O jejum ativa a autofagia, um processo celular que ajuda a eliminar resíduos e reduzir a inflamação no cérebro, podendo contribuir para um melhor funcionamento cognitivo.
📌 Estudo de Referência: Nature Reviews Neuroscience (2021) destacou que a autofagia pode melhorar a comunicação neuronal e a função executiva, dois fatores importantes para o controle do TDAH.
Contraindicações do Jejum para TDAH
Apesar dos benefícios potenciais, o jejum não é para todo mundo. Para pessoas com TDAH, algumas características dessa prática podem se tornar desafiadoras e até prejudiciais.
Aumento da impulsividade e fome emocional
Uma das principais dificuldades do TDAH é o controle da impulsividade. Para algumas pessoas, ficar longos períodos sem comer pode aumentar os impulsos por comida ultraprocessada e rica em açúcar, causando um efeito rebote.
➡️ Se você já percebe que tem dificuldades para manter uma alimentação equilibrada, talvez o jejum não seja a melhor estratégia para você.
📌 Estudo de Referência: Uma pesquisa publicada no European Child & Adolescent Psychiatry (2020) mostrou que pessoas com TDAH têm maior tendência a compulsões alimentares, especialmente quando submetidas a períodos prolongados de restrição alimentar.
Queda de energia e irritabilidade
Nem todo mundo responde bem ao jejum. Algumas pessoas experimentam irritabilidade, ansiedade e fadiga, sintomas que podem piorar os desafios já comuns no TDAH.
➡️ Se você já luta contra a desmotivação e dificuldades de foco no final do dia, um jejum prolongado pode não ser a melhor opção.
📌 Estudo de Referência: Um artigo publicado no Journal of Affective Disorders (2018) encontrou uma ligação entre hipoglicemia e aumento de sintomas de irritabilidade e desatenção em pessoas propensas a flutuações de energia.
Problemas no sono e ciclo circadiano
O TDAH já está associado a dificuldades com o sono e ritmos circadianos desregulados. Fazer jejum pode impactar ainda mais essa regulação, especialmente se a alimentação noturna for reduzida.
➡️ Para quem já sofre com insônia ou dificuldades para dormir cedo, o jejum pode ser um fator complicador.
📌 Estudo de Referência: Pesquisadores da Sleep Medicine Reviews (2021) apontaram que pessoas que fazem jejum prolongado podem ter uma redução na produção de melatonina, dificultando o sono.
Como saber se o Jejum é para você?
Dado que os efeitos do jejum variam muito entre indivíduos, como saber se essa estratégia pode ser útil no seu caso? Aqui estão algumas perguntas para te ajudar:
✅ Você sente que tem boa regulação da fome e consegue controlar impulsos alimentares?
✅ Seus níveis de energia são relativamente estáveis ao longo do dia?
✅ Você já testou períodos curtos de jejum e se sentiu bem?
✅ Seu foco melhora quando você passa algumas horas sem comer?
Se a resposta for “sim” para a maioria dessas perguntas, o jejum pode ser uma boa ferramenta para você.
Agora, se você se identifica mais com estas situações…
❌ Sente muita fome e irritação quando fica sem comer por algumas horas
❌ Tem tendência a compulsão alimentar após períodos de restrição
❌ Percebe que seu foco e desempenho mental pioram quando está em jejum
❌ Já tem dificuldades com insônia e desregulação do sono
… então talvez seja melhor buscar outras estratégias para otimizar sua energia e concentração no TDAH.
Veredito PlexNutri: Jejum vale a pena para o TDAH?
O jejum intermitente é uma ferramenta poderosa, mas não serve para todo mundo. Ele pode ajudar a regular a dopamina, estabilizar os níveis de energia e reduzir inflamações cerebrais – fatores importantes para quem tem TDAH.
Por outro lado, pode ser um desafio para quem tem dificuldades com impulsividade alimentar, hipoglicemia e regulação do sono. Se você já tem um bom controle sobre sua alimentação e percebe benefícios ao reduzir a frequência das refeições, vale a pena testar.
Mas se o jejum te deixa ansioso, irritado ou com dificuldades de concentração, existem outras formas de otimizar o cérebro. Estratégias como alimentação rica em proteínas, suplementação com nootrópicos e adaptógenos, e práticas como mindfulness e exercícios físicos também podem contribuir para um cérebro mais focado e produtivo.
O mais importante? Entender o que funciona para o seu corpo.
Referências Científicas
- Mattson, M. P., et al. (2018). “Intermittent metabolic switching, neuroplasticity and brain health.” Nature Reviews Neuroscience.
- Harvie, M., et al. (2011). “The effects of intermittent or continuous energy restriction on weight loss and metabolic disease risk markers: a randomised trial in young overweight women.” International Journal of Obesity.
- Longo, V. D., & Mattson, M. P. (2014). “Fasting: molecular mechanisms and clinical applications.” Cell Metabolism.
- Patterson, R. E., et al. (2015). “Metabolic effects of intermittent fasting.” Annual Review of Nutrition.
- Tinsley, G. M., & La Bounty, P. M. (2015). “Effects of intermittent fasting on body composition and clinical health markers in humans.” Nutrition Reviews.